Por Melissa Gargalis
28/08/2016
As grandes navegações deixaram aos portugueses a fama de um povo desbravador e corajoso. José Mourinho, técnico do Manchester United, parece ser assim também.
Quando todos creditavam as contratações de Ibrahimovic e Paul Pogba como uma operação quase que impossível, Mourinho mostrou que chegou ao clube inglês para marcar seu nome na história e fazer estragos, sejam eles positivos ou negativos.
É cedo para falar sobre os rumos da Premier League desta temporada, ainda mais quando assistimos ao Leicester levantar o troféu de campeão há cerca de quatro meses. No entanto, pelas palavras de Mourinho (“Rivais voltarão a temer jogar em Old Trafford”), dá para acreditar que o português não está com brincadeira. Aliás, fazer brincadeiras não é bem a cara de Mourinho.
Após três jogos e três vitórias no Inglês, já dá para imaginarmos o tom que o treinador quer dar à sua equipe. A defesa deve ser segura, o meio de campo com volantes fortes e expansivos, com meias-atacantes velozes, Rooney sendo o motor e cérebro da equipe e, por fim, Ibra garantindo o ponto de eficiência na frente.
Ah…Antes que me esqueça, conformem-se: Fellaini é uma realidade e Mourinho gosta dele. Assim como gostava de Mikel e Ramires, no Chelsea, ou ainda Cambiasso na Inter de Milão.
A diferença é que Fellaini é desajeitado, falta habilidade, mas, fato é que no meio de campo, atuando como volante, na função que não tem que se aventurar ofensivamente por incompetência de um treinador desmiolado que acha que ele pode ser o ‘homem-gol’, o belga tem ido bem e é importante para compor o elenco. Ele é uma ameaça na bola aérea, mas eu realmente não entendo o que fazia Louis van Gaal pensar que o camisa 27 teria capacidade para ser o centroavante do clube. Apenas não, nunca daria certo!
Desvendada a básica estratégia de José Mourinho, vamos às polêmicas. São duas: Schweinsteiger e a base.
Schweinsteiger é uma lenda do futebol. Fato. Defendi com unhas e dentes a contratação do alemão. No entanto, entendo a posição de Mourinho. Afinal, o camisa 31 pouco contribuiu na última temporada. A idade relativamente mais avançada é outro problema. Pensando em uma reformulação, ele não é a melhor opção para brigar por vaga entre os titulares. Até porque daqui mais alguns anos, supondo que ele se recupere, destrua e seja titular absoluto, fatalmente anunciará sua aposentadoria, assim como já fez com a seleção alemã.
A grande questão é que fechamos os olhos e tentamos ignorar que o tempo e as lesões são os grandes inimigos de Schweinsteiger. José Mourinho não mistura emoção neste caso. Está sendo racional e cumprindo o seu papel. Está pensando no clube. Mesmo assim, concordo que o alemão continua sendo um ícone do futebol e merecia mais respeito. E termino minha opinião sobre este caso com uma simples explicação: Mourinho é assim.
Sobre a base: Mou foi contratado para trazer resultados. Se me lembro bem, Moyes foi fortemente criticado quando conseguiu placares ridículos. Louis van Gaal, utilizando todos os garotos da base também. E, honestamente,vendo a Premier League cada dia mais maluca, com zebras e investimentos monstruosos, sei que o Manchester fez certo na contratação do português.
Hoje, precisamos de uma estratégia segura. Temos medalhões para garantir vitórias e acho que estamos bem servidos neste quesito. Mas, aos que acham que Mourinho acabará com o United, digo que ele é louco, mas nem tanto. Rashford manteve-se no elenco. Ele é o nosso menino de ouro e está lá. Inclusive, nos deu a vitória sobre o Hull City no último fim de semana. (Que vitória!)
É verdade que emprestamos alguns bons nomes, mas será uma experiência. Wilson é um exemplo, mas e se o Mourinho escala o menino e deixar o Ibra no banco? Já posso ouvir as cornetas de longe…
Não é fácil! Se der tudo certo, Mourinho será inteligente para saber preservar as origens e tradições do clube. No entanto, pensando em desempenho e lucro, a base também é feita para virar dinheiro. Mourinho manterá os melhores. Os outros terão oportunidades em outros lugares e nós vamos vendê-los por um bom valor. Afinal, não é toda geração que nasce especial, como a class of 92.
Por fim, estamos prestes a encarar um rival metido à besta. Manchester City com Pep Guardiola. Um time tentando alcançar o status de grande. Nós, por outro lado, estamos tentando renascer. Não é por nada, mas se Guardiola chegou entre os maiores treinadores do mundo, também foi devido à filosofia de jogo da escola holandesa, de Johan Cruyff, implantada no Barcelona e que ele soube aperfeiçoar de forma exemplar.
Já Mourinho, não precisa de ano sabático, não precisa se dar bem com todos, não tem que jogar bonito, não tem que imitar Pep Guardiola. Mourinho é realmente um gênio do mau, um anti-herói, que vive rachando elenco e fazendo a caveira de diversas pessoas com quem trabalha. O jornalista português Luís Aguilar foi preciso ao defini-lo como um anti-herói. Entretanto, felizmente, agora ele está do lado certo. Aos rivais, lamento, pois vão odiá-lo ainda mais.