Na última sexta-feira, 24, o mundo parou para acompanhar o Brexit, anúncio que o Reino Unido decidiu por deixar a União Europeia – grupo do qual é membro desde 1973, quando ainda era Comunidade Econômica Europeia.
A histórica votação causa preocupação e dúvidas acerca do futuro do Reino Unido com relação à Europa e ao mundo, e a Premier League (e, consequentemente, o Manchester United) também expressa sua preocupação. Mas, antes de chegarmos nesse ponto, é importante esclarecer alguns pontos:
O que é Reino Unido e União Europeia?
O Reino Unido é composto por Inglaterra, Escócia, País de Gales (que formam a Grã-Bretanha) e Irlanda do Norte. Pode ser considerado um Estado chefiado pela rainha Elizabeth II e governado por um primeiro-ministro.
A UE se resume em uma parceria político-econômica entre 28 países iniciada após a Segunda Guerra Mundial, com finalidade de recuperar a fragilizada economia europeia. A ideia era gerar um grupo que manteria um “mercado interno”, que fortaleceria as relações entre os membros e permitiria um crescimento mútuo, afastando também os riscos de uma nova guerra. Uma das mais marcantes características do grupo é a utilização do Euro, principal moeda de 19 dos pertencentes à União Europeia.
O que é o Brexit?
O movimento (cujo nome é uma composição de Britain e exit) é consequência do resultado do referendo ocorrido no dia 23 de junho, quando mais de 17 milhões de votantes decidiram pela saída do Reino Unido da União Europeia.
Os argumentos utilizados para justificar a saída do Reino Unido da União Europeia versam sobre os altos valores pagos pelo Estado ao grupo, possibilidade de novos acordos de livre comércio com outros mercados, reestruturação de empresas britânicas e controle imigratório. Este último ponto é o que mais influencia a Premier League.
Quando a saída será efetivada?
O processo não é imediato, apesar do Artigo 50 do Tratado de Lisboa (responsável por toda a legislação da saída de um membro da União Europeia) especificar o prazo máximo de 2 anos. Especialistas, no entanto, alegam que as negociações devem ultrapassar esse prazo, uma vez que o Reino Unido está a mais de 40 anos relacionado com as legislações do grupo.
Como a Premier League é afetada?
A primeira – e mais imediata – consequência é a desvalorização da Libra Esterlina perante o Euro. No dia 23, após atingir o valor de 1,31 euros, a moeda inglesa sofreu uma forte queda e chegou a valer 1,22 euros no dia seguinte, estabilizando em 1,23 (decréscimo de, aproximadamente, 7%).
Como bem lembrou o site O Goal, essas alterações na relação entre libra e euro pode impactar significantemente os valores das contratações de jogadores vindos de times “não-britânicos”. Na contra-mão desta ideia, os jogadores da Premier League também ficariam mais baratos, e sua saída seria facilitada (alguém falou De Gea?) para a Europa (eu ouvi Real Madrid?).
Essa queda no valor da libra, entretanto, deve ser temporária. Economistas europeus apostam que a moeda ainda perderá um pouco de seu valor no futuro próximo, mas deve se recuperar a partir do ponto em que a situação no Reino Unido seja um pouco mais esclarecida.
No longo prazo, a maior complicação para os clubes seria com relação à jogadores estrangeiros – que hoje compõem 65% dos atletas da Premier League. Caso o Reino Unido e a União Europeia não definam uma legislação semelhante à que acontece atualmente, a contratação de estrangeiros seria dificultada pelo requisito de 75% de partidas disputadas pela seleção nos últimos dois anos.
Outro ponto que preocupa é o Artigo 19 da Regulamentação de Transferências da FIFA, que impede a negociação de jogadores com menos de 18 anos. O Reino Unido, atualmente, é privilegiado pela exceção da regra, que permite tais aquisições se “a transferência ocorrer no território da União Europeia ou do Espaço Econômico Europeu e se o jogador tiver entre 16 e 18 anos”. Os favoráveis ao Brexit argumentam que, desta maneira, as camadas jovens dos clubes seriam mais desenvolvidas com atletas da nação, fortalecendo assim o futuro da seleção.
Como o Manchester United é afetado?
Com base em tudo que foi dito anteriormente, o clube teria futuros problemas com a contratação de jogadores estrangeiros e jovens promessas para abastecer sua academia.
Do atual elenco, cerca de 29 jogadores seriam avaliados com as novas regras de visto de trabalho e poderiam ser impedidos de atuar na Inglaterra, sendo 20 atletas da equipe titular, 3 do time sub-21 e outros do sub-18. Confira abaixo a lista de estrangeiros* em Old Trafford.
- TIME PRINCIPAL: Memphis Depay, Daley Blind e Timothy Fosu-Mensah (Holanda); David de Gea, Juan Mata e Ander Herrera (Espanha); Adnan Januzaj, Marouane Fellaini e Andreas Pereira (Bélgica); Marcos Rojo e Sergio Romero (Argentina); Anthony Martial e Morgan Schneiderlin (França); Bastian Schweinsteiger e Sean Goss (Alemanha); Matteo Darmian (Itália); Antonio Valencia (Equador); Guilhermo Varela (Uruguai); Axel Tuanzebe (Congo); Eric Bailly (Costa do Marfim).
- TIME SUB-21: Joel Castro Pereira (Suíça); Sadiq El-Fitouri (Líbia); Josh Doughty (Canadá).
- TIME SUB-18: Ilias Moutha-Sebtaoui e Indy Boonen (Bélgica); Matt Olosunde (Estados Unidos); Jimmy Dunne (Irlanda); Faustin Makela (Congo); Tosin Kehinde (Nigéria).
Sob a vista de contratações, caso as regras fossem apliadas imediatamente, as vindas de Zlatan Ibrahimovic e Henrikh Mkhitaryan também seriam dificultadas, assim como a comissão técnica de Jose Mourinho também poderia enfrentar problemas para atuar na Premier League.
E agora?
Como dito anteriormente, nada será feito de imediato. As transferências – pelo menos na próxima temporada – ainda deverão ocorrer naturalmente com as cifras exorbitantes que o futebol vem praticando e os clubes terão tempo para se planejar. Entretanto, é fato que o Brexit preocupa à todos que acompanham a Premier League, direta ou indiretamente. As consequências dessa decisão só serão vistas no futuro, mas é sensato acreditar que devemos esperar algumas mudanças no melhor campeonato de futebol do mundo. Se elas serão positivas, ou não, só o tempo dirá.
*Informações do site do clube.