Pouco lembrado por não ser da história recente, Jack Rowley foi um dos grandes astros do Manchester United antes e no início da era de Sir Matt Busby. O ponta esquerda, propriamente adaptado pelo professor como centro avante, ajudou o clube a se reerguer e ser a referência do país, sendo o grande artilheiro naquela época, mesmo que o clube passasse por tempos difíceis, em meios de conflitos mundiais, que culminou com a destruição total do Old Trafford. Este mesmo Jack Rowley merece este dia exclusivo para ser homenageado, justo quando faria 96 anos de idade, se ainda estivesse entre nós.
Nascido em Wolverhampton no ano de 1920, Jack Frederick Rowley vem de uma família de esportistas. Seu pai era goleiro do Walsall, enquanto o seu irmão mais novo, Arthur Rowley, dava seus primeiros passos antes de também virar uma sensação no futebol inglês. Porém, ao contrário do seu irmão, Jack não preferiu começar sua carreira no Manchester United, e sim no Wolverhampton, aos 15 anos de idade. Aos 18 anos, assinou com o Bournemouth & Boscombe Athletic [o famoso Bournemouth que conhecemos hoje da Premier League], da terceira divisão na época.
Início da trajetória e descoberta
Mas assim como Arthur, era um exímio canhotinha que atuava pelo flanco ofensivo, mas ao mesmo tempo não era impedido de exercer suas habilidades goleadores. Fruto disso, conseguiu chegar a marca de 10 gols em 11 atuações. E quem o descobriu enquanto atuava no sul do país foi James W. Gibson, simplesmente o magnata da industria textil e dono do Manchester United na época, que investiu no clube quando o mesmo estava ameaçado a falir por problemas financeiros [em outros momentos falaremos exclusivamente dele]. Gibson procurava peças para complementar o time e, portanto, Jack Rowley o chamou atenção. Desta forma, assinou com os Red Devils em 1937, por valores de três mil libras.
Estreou no dia 23 de outubro de 1937 vencendo o Sheffield Wednesday, mas foi seis jogos depois, em dezembro daquele ano, que Rowley marcou seus primeiros e logo quatro gols no massacre sobre o Swansea Town por 5 a 1. Com nove gols no campeonato, a equipe de Walter Crickmer terminou em segundo com 53 pontos, a quatro do campeão Aston Villa.
Entre o futebol e a guerra
Em 1939, da mesma forma que a temporada regular teve que ser interrompido ainda no início [sendo dividido em competições regionais], Rowley teve contratempos com futebol, pois precisou representar o exército inglês durante a Segunda Guerra Mundial, tendo participado do Dia D no litoral da Normandia. Na temporada 1940-41, construiu uma fantástica sequência de 17 gols nos 11 jogos finais, mas que não impediu que o United amargurasse a oitava posição. Em 1941-42, estreou o campeonato em casa e atropelou o New Brighton por, acredite, 13 a 1, onde Rowley marcou incríveis sete tentos. Mas não parou por aí. Marcou 14 gols entre o mês de setembro e outubro, e entre novembro e dezembro foram mais treze tentos, somando 31 gols em 18 partidas. Apesar do resultado na tabela ter sido apenas a quarta colocação, foi no returno que o United se sagrou campeão, mas com apenas oito gols do ponta esquerda, tendo contribuição majoritária do colega Johnny Carey.
Ascensão com Matt Busby
Em 1945 com o fim da Segunda Guerra, Jack Rowley volta em definitivo quando o clube decide trocar de técnico. Walter Crickmer encerra sua segunda passagem no leme do United e em seu lugar, nada menos do que Matt Busby, ex-jogador do Manchester City e Liverpool, que assume o comando do principal rival, quando este tentou o contratar nos tempos de Citizens. A parceria de Busby de Rowley selava em alto nível na segunda temporada do escocês, em 1946-1947, que decidiu deslocar o ponta para a posição de centro avante e, o resultado disso foi: 26 tentos em 37 jogos pelo campeonato [dois desses contra o seu ex-clube, o Wolverhampton]. Todavia, a equipe deixou a taça escapulir de seus dedos para o Liverpool, que venceu os Diabos Vermelhos nas últimas rodadas e ficou na vantagem de um único ponto. Mas a verdade é que a mudança foi bem sucedida para o atacante e que só faltava um título para comprovar isto.
Apelidado de “Gunner” devido ao seu poderoso chute de pé esquerdo, Jack Rowley, em companhia aos colegas de posição Stan Pearson, Johnny Morris e Charles Mitten, fizeram uma campanha histórica na FA Cup em 1947-48. Superando o Aston Villa, o troco no rival Liverpool, o atual campeão do torneio Charlton Athletic, Preston North End e o Derby County na semifinal em Hillsborough [nesta altura com sete tentos de Pearson, três tentos de Rowley, Morris e Mitten], alcançaram a primeira final da copa desde 1909, quando venceu a inédita decisão. E o adversário era o fortíssimo Blackpool do veterano e um dos maiores futebolistas da época Stanley Matthews.
No Wembley lotado com quase 100 mil espectadores, United deu o pontapé inicial, mas não demorou muito para o Blackpool construir sua primeira chance de abrir o marcador. O camisa 9 Stan Mortesen partiu em velocidade em cara a cara com o goleiro, porém, Allenby Chilton fez o inevitável que foi um carrinho por trás do atacante e derrubá-lo em pênalti marcado pelo árbitro. Jack Crompton até acertou o canto mas não conseguiu pegar o chute de Eddie Shimwell, 1 a 0. Ainda na primeira etapa deu tempo para a reação do United com ele, Jack Rowley, numa ótima jogada que exigiu mais da técnica do que sua força – levantou a bola recebida, encobriu o goleiro com o pé esquerdo e chutou fraquinho com o trocado para igualar.
Pelo conjunto da obra, o gol não valeu dois, porque logo Mortesen deixou o seu para colocar os Tangerines na frente. Virar um placar no segundo tempo nunca é fácil, mas não impossível. Novamente ele, Jack Rowley ficou sozinho numa jogada de escanteio, que coube a paciência do mesmo para cabecear a bola no canto extremo do goleiro e deixar tudo igual de novo. Por algum motivo a máquina do Blackpool não era o mesmo da etapa anterior, que acabou permitindo ao United o direito de sacramentarem a decisão com John Anderson e Stan Pearson ampliando o resultado de 4 a 2. E por fim, a taça nas mãos do capitão Johnny Carey.
Auge e aposentadoria
Aos 28 anos e campeão da Copa da Inglaterra, Jack Rowley estava no apogeu da carreira. Com 30 gols em 48 jogos na temporada 1948-49, o atacante crescia de produção a cada ano, emplacando o United na segunda posição e entre os semifinalistas da FA Cup. Todavia, era natural que a idade progredindo iria corresponder numa queda de números aos poucos. Em 1949-50 marcou 23 tentos e em 1950-1951 apenas 15, perdendo a artilharia interna nesta época para Stan Pearson.
Entretanto, a redenção teria que vir cedo ou tarde. Matt Busby necessitava de renovar a equipe e o próprio Rowley voltar ao alto nível se não quisesse se aposentar com 30 anos, uma idade relativamente ainda boa. Cansados de serem vice colocados nas quatro dos últimos cinco campeonatos, Busby aposta nas pratas da casa Roger Byrne, Jackie Blanchflower, Mark Jones e Ernie Bond para a temporada 1951-52. Na pré-temporada, Jack Rowley volta a jogar como nunca: marca 19 gols em 15 jogos. Nos dois primeiros jogos do campeonato, não teve piedade em marcar dois hat-tricks seguidos e mais 16 gols até o fim do primeiro turno, em dezembro. Mas o returno foi melhor ainda. Sofreram apenas duas derrotas, o inglês ampliou mais oito tentos, um hat-trick na goleada impressionante sobre o Arsenal por 6 a 1 na última rodada, então ultrapassaram o Tottenham por 4 pontos de vantagem e foram finalmente campeões pela terceira vez na história do clube. Outro detalhe, Rowley somou 30 gols, mas ficou para trás por três a menos de assumir a artilharia geral.
Devido ao triunfo, participaram mais tarde da Supercopa onde encararam o campeão Newcastle United, da FA Cup. Perto de completar 32 anos, Rowley novamente foi o homem da decisão para o Manchester United. O atacante Vic Keeble abriu a contagem no final do primeiro tempo, mas a poucos minutos do início da etapa final, Rowley comandou a virada com dois tentos e lodo depois viu Roger Byrne ampliar a vitória encaminhada. Keeble reagiu diminuindo a vantagem, mas o escocês John Downie selou a vitória e a terceira conquista da Supercopa em pleno Old Trafford.
O veterano a partir daquele momento não tinha mais como se superar. Emplacou o seu nome na história do clube e deixou um legado fundamental para a geração futura, conhecido como os Busby Babes. Então, após 211 gols em 424 jogos, Jack Rowley deixou o Manchester United em 1954, aos 34 anos de idade, e se aventurou no Plymouth Argyle como jogador-técnico até 1957, quando se aposentou oficialmente.
Maior artilheiro do United antes de Bobby Charlton, Denis Law e Wayne Rooney, ainda somou seis jogos pela seleção inglesa no qual fez seis gols [sim, um gol por jogo], e segundo dados oficiais, totalizou 312 gols em 503 aparições.
Aposentado, treinou alguns clubes como o Plymouth Argyle, Oldham Athletic [conquistou uma promoção para a terceira divisão], Ajax, Wrexham, Bradford Park Avenus e novamente o Oldham até pendurar as pranchetas em 1969. No dia 29 de junho de 1998, veio a falecer aos 77 anos de idade.