Por Melissa Gargalis
18/01/2016
Desde que comecei a escrever para este site, muitas pessoas me enviaram mensagens perguntando sobre como comecei a torcer pelo Manchester United. Depois de quase dois anos como colunista do ManUtd BR, entendo que já passou da hora de deixar aqui o relato dessa história.
Tudo começou em um domingo de 2006. Na ocasião, tinha acabado de acordar e de forma costumeira peguei meu pote de sucrilhos e fui de pijama mesmo para a sala. Lá, encontrei meu pai sentado no sofá. Meu “bibo”, um dos vários apelidos que uso para chamá-lo, não é fã de futebol inglês. Na verdade, estava apenas bisbilhotando a programação da TV, quando foi atraído por uma luz verde. Na certa, era um jogo de futebol. Nada mais, nada menos que o gramado de Anfield Road num dia de jogo dos donos da casa diante dos maiores rivais. Até o momento, eu não sabia do que se tratava. Apenas peguei meu travesseiro e deitei no sofá.
Na Rede TV!, estava passando um dos maiores clássicos do futebol inglês e mundial. O jogo estava prestes a começar e a câmera já mostrava o estádio e os atletas caminhando para o gramado. Como acontece em todo jogo em Anfield, a torcida de Liverpool cantou, mas a canção não me arrepiou. Pouco depois, o jogo começou.
Sem notar, estava entretida com a partida. Quieta, como sempre, assisti a todo primeiro tempo. Uma primeira etapa sem gols, mas nem por isso entediante. Lembro que durante a transmissão, o narrador e o comentarista falavam sobre a tradição e as conquistas de cada clube. Lembro também que chegaram a mencionar fatos históricos, como um certo acidente aéreo que havia sofrido uma das equipes em algum momento do passado. As histórias me chamaram atenção e durante o intervalo meu lado curioso se aflorou, tive que pesquisar um pouco. Numa rápida pesquisa, li uma coisa que me inquietou: “Sir Alex Ferguson está há quase duas décadas no comando do Manchester United”. Eu parei e perguntei para meu pai: “Bibo, técnicos de futebol ficam duas décadas num mesmo clube?”. Ele me respondeu: “Claro que não!”.
A resposta foi tão surpreendente quanto minha terrível vontade de saber mais sobre aquele time. Mas as pesquisas teriam que esperar, o momento era de voltar a me entreter com o jogo. De novo, sem perceber, estava apertando o travesseiro e completamente vidrada na TV. Quando me dei conta, estava torcendo pelo time de Sir Alex Ferguson, pelo Manchester United. Foi dessa forma que começou a minha “mania”. E tudo se concretizou com o gol que estava por vir. O desespero que gritava nos olhares dos torcedores e também dos jogadores era o mesmo que despertava dentro de mim. A agonia só acabou quando não sei quantos mil presentes no estádio, mais eu, da minha casa, conseguimos gritar juntos pelo time de vermelho. O gol, enfim, acontecera.
O narrador anunciava a cobrança de falta para o Manchester United. Ryan Giggs ajeitava a bola e eu fechava os olhos. Quando abri, tinha um cidadão de trancinhas, vulgo Rio Ferdinand, correndo em direção à torcida. Vi que ele era do time de vermelho, vi que era do MEU time! Eu só pude fechar as mãos e soltar o grito de gol!
Após o enceramento do jogo fui pesquisar se tudo aquilo era fantasia inventada pelo narrador. Neste momento, tive a descoberta mais dolorosa da minha vida. Descobri que o jogo pelo qual sofri assistindo era, na verdade, uma reprise. A partida já havia acontecido e meu irmão já sabia do resultado. O cara foi capaz de ver o sofrimento de uma criança e não alertá-la que um jogo só ao vivo quando tem escrito “ao vivo” no canto da TV. Tudo bem, eu superei essa.
Essa história toda é para compartilhar com vocês que minha torcida pelo United começou sem querer, mas desde então se tornou coisa séria.
Depois de dez anos, continuo fiel na torcida. Neste domingo, presenciei mais uma vitória do United, pelo mesmo placar, em Anfield. Desta vez, assisti ao jogo no trabalho. Desta vez, apesar do mesmo marcador de 2006, o cenário era diferente. Rooney marcou, comemorou de forma explosiva com os outros jogadores, mas o time não jogou bem e, na verdade, foi engolido pelo Liverpool. Passamos longe de ter uma boa atuação. De Gea evitou o pior e o Liverpool colaborou em não ser eficiente. Três pontos importantíssimos e van Gaal segue respirando com aparelhos no comando do United.
Quanto a mim, fico contente com a vitória, mas um fato inusitadíssimo neste jogo foi o que mais me alegrou. Phil Jones, Michael Carrick e Marco Rojo protagonizaram uma cena espetacular. Os três jogadores estiveram no meio da torcida e vibraram como eu vibrei naquele domingo de 2006. A cena foi incrível e é por isso, por esse tipo de “essência” que tem o futebol inglês e o Manchester United, que eu me encanto a cada dia com essa coisa que é o futebol.
Estudante de jornalismo e colunista do ManUtd BR. Desde que me conheço por gente vivo e respiro futebol. Fã incondicional do Manchester United. Motivo? História, respeito, raça, tragédia, vitória, título e acima de tudo símbolo! Quantos aos outros? Nunca serão!
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