Por Mauro Sanders
13/12/2015
O comandante avisa para todos os passageiros que é hora de descer. Contrário às recomendações da cabine, meu coração dispara e alça vôos tão grandes quanto o de Van der Sar naquele pênalti do Anelka.
Durante o vôo entre São Paulo e Londres, do mesmo modo que um fiel ostentaria uma relíquia divina no caminho de Santiago de Compostela, eu vestia com orgulho meu manto sagrado já velhinho, porém de relevância eterna: aquele da santíssima trindade de 99.
Um irlandês muito simpático puxava assunto comigo sobre futebol. Ele também torcia para o United e me adiantava pontos turísticos em Manchester e técnicas de sedução: “You should always say that you are brazilian”. Horas depois, já na entrevista com o oficial da imigração, toda mística da rispidez desses agentes britânicos se desfez por um simpático inglês que me dispensou em menos de um minuto chamando minha atenção sobre a histórica camisa que eu vestia, e finalizou:
“Welcome to England and good trip to the Theatre of Dreams”
Já no segundo avião da viagem, em direção à Manchester, um casal de idosos sentava-se ao meu lado e Mr. Willian, simpático engenheiro aposentado, contava com brilho nos olhos e saudade no peito, sobre quando era jovem e fascinado por um George Best mítico e lendário.
Já na esteira carregando minha mala, reparo que todas as pessoas com quem me relacionei nas últimas 15 horas romperam com as barreiras da distancia, língua e cultura por um único motivo: Manchester United. O dia é claro, convidativo e quente. Abro um sorriso largo, e digo interrompido pelas mais genuínas gargalhadas de felicidade:
Manchester: here I am.
Para quem coleciona galos na cabeça depois de uma noite de sonho, descer a Trafford Road em direção a Old Trafford dava uma estranha sensação de que em menos de cinco minutos meu celular ia despertar e me trazer de volta à realidade.
Minhas mãos tremiam e eu olhava ao redor para ver se eu não encontraria nenhum unicórnio voador ou um gigante elefante rosa. Mas tudo o que eu via eram belas moças inglesas de pernas longas e cabelos que se confundiam com o amarelo do pôr do sol sobre o rio Irwell.
Essa cena me levou à seguinte indagação:
“Querida Inglaterra, aonde foi parar suas bundas?”
Como fã do tema, percebi que se isso fosse um sonho esse pequeno deslize seria automaticamente corrigido. Sim, era tudo de verdade. It’s Happening! A cada minuto a monumental fachada de vidro de Old Trafford se tornava mais próxima. No alto, de forma imponente num belíssimo vermelho sangue, duas palavras e um sentimento:
MANCHESTER UNITED.