O escanteio curto sempre fora uma afronta ao espírito moralizador do futebol, trata-se de um verdadeiro atentado ao estilo bretão de se encarar um match, mas para o Manchester United, nos últimos tempos se tornou uma verdadeira necessidade, muito em função das infrutíferas cobranças efetuadas por Daley Blind.
Desde que chegou a Old Trafford, o holandês vem mostrando inúmeras virtudes, que inclusive foram objeto de menção no texto: eles tem uma defesa, nós temos o Blind, porém, cobrar escanteio certamente não é uma delas. Seja por falta de treinamento ou de referências na área, seus cruzamentos não estão sendo bem aproveitados. Seja no primeiro pau, na marca do pênalti ou na cabeça da área, parece mais fácil ver o Valência acertando cruzamento que o Blind um escanteio.
O objetivo dessa matéria está longe de ser cornetar o ceguinho, jogador cujo sou fã, mas na verdade, refletir criticamente sobre a má utilização de alguns jogadores em determinadas funções e responsabilidades, especialmente, a bola parada.
A cobrança do corner é uma incumbência tradicional do camisa 10, aquele meia cancha, de qualidade apurada no passe e visão de jogo única, jogador cada vez mais raro no futebol moderno. Blind (apesar do nome), reúne todas as qualidades citadas acima, porém, passa longe de ser um exímio cobrador e o fato disso não se dá por ele ser um defensor. Seria simples dizer isso em relação ao Jones cobrador de escanteios. Quem lembra?
Daley pode não ser aquele homem magnífico que usa chuteiras pretas, camisa por dentro e que moraliza, na verdade, o camisa 17 é o oposto disso! É um “defensor” puramente técnico e que detém de uma uma classe e técnica incomum para alguém cuja missão predominante é defender.
Mas o que se quer abordar no presente é a razão de tantos escanteios desperdiçados. Qual seja: as cobranças são ruins ou o time é mal treinado? Poderia dizer: DESCUBRA! Mas vou lhes ajudar um pouquinho.
Sem o bisonho Fellaini em campo, o Manchester United costuma jogar sem um homem de área, visto que Rashford e Rooney não são os típicos centroavantes trombadores. Tendo em vista que quem cruza é um dos zagueiros e os volantes Schneiderllin e Carrick passam longe de ser grandes presenças, resta como opção alçar a bola para Smalling. É tão previsível quanto as cotoveladas do cotonete belga.
Ao limitar tanto o número de verdadeiros perigos aéreos, a queda de rendimento nas ações é iminente e óbvia, tanto que a própria comissão técnica (leia-se Albert Stuivenberg) já percebeu isso e vem investindo muito em escanteio curto. Já diriam os mais velhos que “cobrar escanteio curto é mais feio que bater na própria mãe”, mas por incrível que pareça, a opção alternativa tem causado muito mais emoção que as insípidas cobranças habituais.
Observe os melhores momentos do jogo contra o Aston Villa:
https://www.youtube.com/watch?v=BQeWeM7_xx0
Aos 1:50, em escanteio, Blind aciona Mata sozinho próximo a pequena área, mas o goleiro estava atento.
No mesmo jogo, Mata ainda teve outra oportunidade semelhante, porém não conseguiu aproveitar.
Para quem não conhece, Albert Stuivenberg é o assistente do Van Gaal. “O mágico”, como é conhecido, pode não ser tão notado quanto Giggs, mas é uma das poucas coisas boas da atual comissão técnica. Dentre suas funções, a de organizar jogadas ensaiadas certamente é a que lhe rende mais destaque.
Esse gol do Blind oriundo de uma cobrança de falta (ensaiada) é a prova disso.
Outra “engenhosidade” do assistente invencionista foi a falsa barreira diante do Shrewsbury Town, onde Mata marcou um golaço de falta.
Vale lembrar que, nesse mesmo jogo, o Mata tinha acertado a falta anterior na cara do Martial.
Diante de tamanha falta de recursos ofensivos, nem mesmo na bola parada o Manchester consegue encontrar refúgio para se sobressair e marcar gols. Tendo inclusive, que vez em quando, fugir das regras moralizadoras do esporte bretão, marcado historicamente por ser de muitos cruzamentos e coisas típicas do time quando Fellaini está em campo.
A criatividade do assistente maluco vem sendo um plus para o escrete que tenta salvar a temporada com o título da FA Cup e com uma classificação para a Champions League. Pobre demais para um clube do porte Manchester United. Pobreza é um adjetivo perfeito para definir o futebol do time. Ricos em verbas, pobre em futebol, eis o Manchester United moderno.