“Ao ressoar dos primeiros raios de sol de uma manhã de sábado, meu primeiro pensamento é você. A saudade que inflama meu peito é angustiante. Volta e meia me pego pensando em nós dois, no quanto mesmo em meio as tristezas e desilusões eu era feliz apenas por ter você. O vazio que você deixou é algo que nada é capaz de curar, pois és único, insubstituível e incomparável. Durante a vida, amores efêmeros vêm e vão o tempo inteiro, mas quando se trata de algo eterno, meu coração só pensa em você. Nem mesmo as palavras conseguiriam traduzir com precisão a saudade que sinto, pois a várias semanas me perco nos meus próprios pensamentos, tentando de alguma forma encontrar você”.
Dizem que a primeira, mais intensa e duradoura paixão de um homem é pelo seu time de futebol. Parece meio poético e exagerado, porém quantos de nós não nos sentimos vazios nas últimas semanas? Nem mesmo a morena deixou tanta saudade quanto a Premier League.
Vai começar a falar de futebol quando Filipy? Agora!
Desde que a suspensão foi anunciada, nossos finais de semanas se tornaram torturantes e insípidos, pois algo nos faltava, contudo ao que parece, nosso “sofrimento” está próximo de chegar fim, afinal, anunciaram o retorno das partidas para o dia 17 de junho. É aí que reside a raiz de toda a polêmica: inúmeros atletas manifestaram abertamente sua preocupação com esse retorno, dentre eles Kanté, Troy Deeney e mais recentemente o zagueiro Tyron Mings, capitão do Aston Villa, que foi firme e duro em suas colocações:
“Os motivos são 100% dirigidos pelo dinheiro e não pela integridade. Sou a favor de voltarmos porque não temos outra escolha. Como jogadores, fomos as últimas pessoas consultadas sobre o Project Restart porque esta é a ordem de prioridade no futebol. Sem problemas. Somos um produto do jogo e devemos aceitar”, declarou o jogador ao Daily Mail.
Se amamos verdadeiramente nossos clubes e o futebol, nutrimos de igual modo amor pelos atletas, afinal, eles são os artistas que conduzem o espetáculo. É, portanto crucial, ouvi-los, afinal, um artista precisa de liberdade para produzir sua arte. De nada adiantaria um jogo sem paixão. O futebol, para nossa sorte, não é uma ciência exata, chata e pragmática como a matemática, sendo necessário então o elemento “paixão” para dar aquele tempero e sabor. Além de que gozar de boa saúde mental é fator crucial para o bom rendimento do atleta.
Coagir os atletas a entrarem em campo a contragosto não passa de egoísmo, pois como nos ensina São Paulo (o apóstolo, não o clube) “O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha.
Não maltrata, não procura seus interesses, não se irá facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. [1]
Em tempos tão cruéis, diria para vocês que o futebol fica em segundo plano. Mesmo amando, mesmo ansiando noite e dia por um derby, não me sinto impulsionado a “forçar” aqueles que tanto amo a fazer algo a contragosto. Sabemos que infelizmente o que rege a sociedade são os valores e capitais, contudo, necessário é olhar para o ser humano por detrás do atleta e conferir dignidade a estes. As manifestações dos atletas são bem concretas e nos tocam:
O lateral Danny Rose, do Tottenham, declarou que “nem deveriam estar falando de futebol” e que “a vida das pessoas está em risco”. O brasileiro William do Chelsea afirmou que: “a maioria dos jogadores não se sentia confortável com um retorno imediato” [2].
Portanto, diria para vocês que o maior gesto possível de amor aqueles a quem tanto amamos nesse momento é ouvi-los e apoiá-los. A saudade que arde no peito é sufocante, mas não é nada que se compare ao sofrimento daqueles cujo amamos. Não compreender e ter empatia para com isso só reflete que não há amor, mas uma relação de uso. É como dizer que os atletas e os clubes se resumem a uma mera realidade fictícia e que só servem para nos distrair e nos saciar, quando em verdade, bradamos o tempo inteiro dizendo que “nossos times são os grandes amores da nossa vida”.
Encerro com uma frase clichê que todos nós deveríamos esculpir ou tatuar nas almas: “não é só futebol, nunca foi só um jogo, vai muito além, é o amor das nossas vidas”.
[1] Biblía Sagrada– 1ª carta de São Paulo aos Coríntios, capítulo 13.