Em agosto de 2014, muitos (se não quase todos) Red Devils estavam exaltados com a chegada de Angel Di María no clube. Esse que vos escreve, em particular, acompanhou quase in loco os tweets sobre a quase certa chegada do argentino à Manchester, procurou dados e estatísticas do jogador, viu jogadas passadas no YouTube e aguardou com afinco a tão esperada foto do hermano com a camisa vermelha estampando o polêmico símbolo automobilístico na fronte.
Acompanhei, durante uma aula do sábado de manhã, a estreia de nosso novo camisa 7 ao vivo, pelo notebook, empolgado ao menor toque de Di María na bola. Como muitos, passei as semanas esperando a explosão de habilidade de um dos jogadores mais cobiçados do mundo, de forma à explicar os quase 60 milhões de libras pagos ao Real Madrid.
E então começaram as dúvidas. Apesar de algumas jogadas geniais, aquele não era o mesmo jogador considerado MVP da última final da Champions League. O argumento mais plausível era: “ele veio de um estilo diferente de futebol, espanhol, mais velocista, individual e aberto, enquanto na Inglaterra impera o jogo fechado, técnico e coletivo”. Sempre na esperança de “mais uma chance para um novato no time”, surge então a notícia de que a família do jogador sofreu uma tentativa de assalto em sua própria casa, o que estaria afetando o psicológico de Angel. Vieram as lesões, a reserva, as incríveis atuações de Young, alguns gols, várias assistências, mas o argentino ainda não parecia confortável em Manchester.
Próximo do final da temporada, fiz um texto sobre como Mesut Özil era nossa esperança para a próxima temporada, uma vez que Di María, seu ex-colega em Madrid, passava por um ritmo extremamente semelhante ao do alemão. Com o anúncio de contratações e especulações minha fé no futebol do argentino se mantinha, e os boatos sobre sua saída ao Paris Saint-Germain tornavam-se sem fundamento e puramente sensacionalistas. De repente, eis que a transferência vêm a tona. Di María não viaja para os EUA, jornais franceses cravam sua chegada à cidade-luz e começam as hipóteses sobre “substitutos à altura”. Uma enorme decepção, ainda mais após o jogador ter dito que acreditava em sua evolução em Manchester e que estava à espera da próxima temporada.
Depois do desabafo, a reflexão: Onde Angel Di María deu errado em Old Trafford?
O peso da lendária camisa 7, trajada por grandes nomes da história do United, trouxe uma responsabiliade imensa para um jogador recém-chegado e pouco habituado à um estilo de campeonato totalmente diferente dos que disputou ao longo de sua carreira. Em um time carregado de estrelas, Di María acostumou-se a atuar como coadjuvante, um elemento surpresa que desequilibrava o jogo quando os restantes não rendiam como esperado. Em Manchester, entretanto, seu papel seria de maior protagonismo.
Algo que agora parece bem claro é: Di María não ansiava jogar em Manchester. Diferentemente de jogadores como Memphis Depay e Bastian Schweinsteiger, que decidiram se transferir para Old Trafford, Angel foi levado ao clube por seu agente, Jorge Mendes, como uma opção para a chegada de James Rodríguez ao Real Madrid. Para o clube espanhol só vantagens: abriu espaço no time para a contratação do colombiano, recuperou parte do dinheiro investido e fortaleceu o vínculo de Mendes com as duas equipes. Para o United, uma opção de peso para a ponta esquerda, ocupada pelo antes criticado Ashley Young. Para Angel, entretanto, parece agora que os vencimentos semanais foram o principal interesse.
O interesse do PSG é antigo, e remonta da época da transferência entre Manchester e Real Madrid. Houve, inclusive, uma suposta venda de camisas da equipe francesa com o nome de Di María em 2014, mas agora a situação se tornou-se real. Com uma conclusão da transferência, os torcedores levam suas esperanças para a chegada de um substituto à altura, considerando o medo de Young não manter a boa fase.
Essa pode ser uma opinião a ser contestada, mas tudo indica que o argentino se acovardou em Old Trafford. Entretanto, uma coisa é quase certa: Angel Di María talvez seja, sem exageros, a maior decepção do United nessa década.